Conte-nos um pouco sobre a sua experiência e sobre os veículos em que trabalhou.
Eu comecei como rádio-escuta na Rádio Sociedade da Bahia, depois fui convidado a integrar a equipe da TV Itapoan e lá comecei a minha vida de repórter, algo completamente imprevisível já que a minha “cachaça” era o rádio. Eu gostava muito de rádio e quando a televisão bateu na minha porta, eu abri assustado. Nessa época, eu abandonei o rádio porque não dava para conciliar, eu também trabalhava como bancário, então eu trabalhava no banco pela manhã e na televisão eu trabalhava à tarde. Essa fase da TV Itapoan foi uma fase importante porque eu peguei a falência do Diário de Associados, o fim mesmo do domínio de Chateaubriand. Aprendi muita coisa com aquela fase ruim, uma fase em que faltavam equipamentos, as vezes nem salário no fim do mês tinha, ainda bem que eu não dependia só disso porque o que me sustentava na verdade era o banco. Naquela época era muito complicado viver só de jornalismo, só de reportagem, mas de alguma maneira eu conseguir driblar essas dificuldades. Depois eu fui convidado para trabalhar na TV Aratu, na época com Hermano Henning. Nos encontrávamos muito nas matérias, ele pela TV Aratu e eu pela Itapoan, ele gostava do meu trabalho e fez uma ponte para mim na TV Aratu, ele era o chefe de jornalismo naquela época e acabou me convidando para trabalhar lá. Dois anos depois, já experiente, me escalaram para ser um dos repórteres da TV Globo, um dos credenciados da rede para trabalhar no Jornal Nacional e nos demais telejornais da Rede Globo e fiquei na TV Aratu até ela perder a concessão para a Globo, quando isso aconteceu passei um período em São Paulo por orientação da emissora e depois me mandaram para Recife, onde fiquei por três anos, para depois retornar à TV Bahia e aqui estou até hoje.
Qual foi o maior desafio enfrentado na profissão?
Meu maior desafio foi aprender. Eu não imaginava, quando comecei, chegar à televisão. A televisão me surgiu por acaso e o grande desafio foi aprender a fazer a reportagem. E até hoje eu estou nesse caminho do aprendizado. Fora isso, alguns empecilhos que sempre aparecem no nosso caminho como algumas ameaças, principalmente em matérias de denúncia.
Que tipo de ameaça?
Elas surgem principalmente quando a matéria é sobre meio ambiente. Me lembro que fiz uma vez um Globo Repórter sobre a destruição da Mata Atlântica e nós mexemos com uma história de um fazendeiro que derrubou uma floresta para plantar café e esse fazendeiro não gostou muito e andou me ameaçando de morte.
Na TV Bahia, o repórter tem liberdade para tratar sobre qualquer tema? Há autonomia? Existe alguma interferência dos acionistas no conteúdo das matérias?
Olha, eu nunca vi nenhum tipo de censura. Evidentemente que todo profissional sabe e conhece a linha editorial da empresa onde ele trabalha e nós conhecemos a linha editorial da TV Bahia, que é uma linha muito voltada para a linha da TV Globo. A linha da TV Globo para mim e para muitos de meus colegas é de independência. Nunca tive um texto censurado, nada que me proibisse de falar ou de construir algum caminho para alguma reportagem. Nunca aconteceu isso aqui.
Como você acha que o público enxerga o veículo? Você acha que essa percepção antiga da TV Bahia como veículo ligado a um partido político mudou?
Eu não posso falar pelo público. As pessoas falam muito da TV Bahia como uma televisão associada a um grupo político e eu pergunto a elas: qual o grupo de comunicação no Brasil que não tenha alguma ligação política? Agora, dos que eu conheço, eu acho que a TV Bahia tem uma postura de independência e de respeito aos profissionais ótima. Não tenho nenhuma queixa, nunca tive meu trabalho censurado ou tolhido de alguma maneira por qualquer tipo de interferência política. Nunca aconteceu isso aqui comigo.
Qual o papel que a televisão tem hoje: informar, entreter, prestar serviço a comunidade?
Tudo isso. O papel da televisão é prestar um serviço de qualidade. A televisão forma opiniões, ela é um veículo forte e importante que as pessoas estão sempre ligadas, estão sempre acompanhando, e por isso tem um papel fundamental na construção da sociedade, dos caminhos que a comunidade deve trilhar. A televisão é uma espécie de porta voz das comunidades, principalmente das comunidades mais carentes, aquelas que precisam mais de apoio. A televisão é a voz e o ouvido da comunidade.
O que é uma boa reportagem?
Uma boa reportagem é aquela feita com base na verdade, na ética e na qualidade profissional. Nenhuma reportagem sobrevive sem esses requisitos, eles são básicos na elaboração de um trabalho bem feito.
Como descreveria seu dia? Existe alguma rotina?
Não há uma rotina. A gente nunca sabe o que vai acontecer daqui a três ou quatro horas. Eu estou aqui agora e de repente acontece alguma coisa em algum ponto na minha área de atuação como repórter e eu posso ter que me deslocar para fazer esse trabalho. Não há uma rotina ou expediente determinado, a gente não tem hora para sair daqui.
Você tem algum projeto para o futuro? Alguma coisa que você sonhe realizar na carreira?
Eu gosto muito de trabalhar com grandes reportagens. Tenho o sonho de um dia poder trabalhar com documentários. Espero um dia ter condições e capacidade para me dedicar só a documentários. Eu penso um dia sair dessa rotina estressante do factual, o factual é muito estressante. Eu já tenho 32 anos de profissão, começo a pensar em me dedicar a uma coisa que me proporcione mais tempo para pensar, ter mais liberdade. Eu não posso reclamar, mas eu queria me dedicar a isso. Evidentemente que não depende só de mim mas de toda uma conjuntura, de todo um processo que anda na retaguarda das redações. Eu ainda não faço trabalhos paralelos, vivo exclusivamente da televisão, trabalho com equipe e equipamentos da televisão. Não tenho uma atividade paralela que me dê algum tipo de suporte para chegar hoje e dizer que vou parar e me dedicar só a documentários. Ainda não tenho essa condição.
E rádio?
Rádio é uma coisa que me fascina até hoje, é um veículo muito importante. Na rádio eu fui locutor noticiarista. Mas eu gosto de programas jornalísticos, de prestação de serviços, sempre me interessei muito pelo contato com as pessoas. Acho que o ouvinte e o telespectador merecem muito respeito e atenção e são personagens importantes de qualquer trabalho jornalístico. Nenhuma reportagem se sustenta sem bons personagens. Na verdade o repórter é só o fio condutor, é aquele que pontua, mas quem conta a história são as pessoas que estão no caminho daquele assunto e acho que nada sobrevive sem essa percepção no jornalismo. A pessoa que está sofrendo na pele é o fator principal desse trabalho.
O que você diria sobre o jornalismo investigativo? Existem riscos
É uma vertente bem especializada, se dedicar a ela é desafiador. Eu tenho muitos colegas que fazem isso muito bem. Eu tento fazer e aprender quando tenho chance. Eu não diria que é perigosa pois tudo pode ser perigoso quando se fala em divulgação de informação. O perigo depende muito da forma como você aborda, do caminho que você escolheu. Você não pode ficar “dando mole” para o azar, tem que tomar precauções. Eu, por exemplo, quando vou fazer alguma matéria de denúncia, penso primeiro na minha família. Não quero ser herói morto, para mim isso não interessa. “Vou peitar tal situação porque sou jornalista!”, que nada! Antes eu sou ser humano.
Existe um liame entre o jornalismo investigativo e o sensacionalista?
Esse tipo de jornalismo não me atrai (o sensacionalista). O sensacionalismo não me atrai, o que me atrai é a verdade, o jornalismo pautado na seriedade. Não gosto de sensacionalismo. Não valorizo nada que sugira exploração das pessoas, o que a gente cansa de ver na televisão. Eu acho que aquilo não constrói, pelo contrário. Não quero muito falar sobre isso não, mas é um jornalismo que na verdade nem é jornalismo. Tudo bem que o bandido deva ser tratado como bandido, mas isso não quer dizer que você tenha o direito de ridicularizar aquela situação. Esse tipo de abordagem não constrói. Isso ajuda a afundar mais a família, a comunidade, não é por aí que a gente vai resolver os problemas que estão nos cercando.
Para encerrar, quais as suas referências profissionais?
Hermano Henning, Ernesto Palha, Caco Barcelos, Lucas Mendes. Eu quero ser igual a eles (risos).
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