Qual a sua formação? Quanto tempo de experiência na área? Por quais veículos já passou?
Eu sou jornalista formado pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso do Rio de Janeiro e sou pós-graduado em gestão da informação para multimeios pela FTC. Sou mineiro, comecei a trabalhar nessa área em Minas Gerais em Varginha em 1978, estava fazendo ainda o segundo grau. Tive uma experiência de 32 anos de rádio e foi o rádio que me influenciou a fazer jornalismo. Já trabalhei em meios impressos, televisão, rádio. Passei pela Rádio Vanguarda em Varginha, depois, quando fui para o Rio de Janeiro, trabalhei na Rádio ElDourado, Ipanema, Capital, todas elas AM. Quando me formei, vim para a Bahia, aqui trabalhei na Rádio Manchete, A Tarde FM, Salvador FM, Globo FM e pela CBN agora. Passei também pelo jornal Correio da Bahia e pelas TVs Aratu e Itapoan. Atualmente estou na TV Bahia e na Rádio CBN.
Quais as dificuldades que já passou ao longo da carreira?
As dificuldades são as dificuldades naturais de quem quer criar um espaço no mercado de trabalho. Você tem que se dedicar, ultrapassar obstáculos, se aperfeiçoar, tem que estar sempre buscando estar bem informado. O jornalismo não é simplesmente saber escrever um bom texto, saber apurar corretamente uma informação porque isso é o básico, isso a gente aprende na faculdade. Claro que você precisa dessa técnica para dar conta do seu trabalho, porém mais do que isso é você aprender a se relacionar com as pessoas, você aprender a trabalhar em equipe, aprender a trabalhar sob pressão, das pessoas e do tempo. Essas dificuldades você não aprende na faculdade e uma coisa interessante é que as vezes você até tem uma experiência legal nessa área, mas a cada dia o desafio se renova. Digo isso por experiência própria, a gente faz uma tremenda edição do BA TV hoje, amanhã a gente já começa do zero, tudo tem que ser recomeçado. Pode acontecer, por exemplo, do jornal estar prontinho e de repente estoura uma bomba na esquina da qual eu não posso deixar de falar. Então o fato de você ter feito um ótimo trabalho hoje, não é garantia que você irá fazer um tremendo jornal amanhã. Por exemplo, estamos fazendo o BA TV de hoje, que já está pronto, a gente faz o pré-espelho do jornal, dá para antever alguns assuntos, mas eu acabei de fazer uma ronda com as praças, as afiliadas no interior do estado e hoje (dia 10 de novembro) teve a reunião da Federação Baiana de Futebol que anunciou o regulamento do Campeonato Baiano do ano que vem, a gente vai noticiar. Então dá para você desenhar o jornal, mas não é garantia de que será esse desenho que irá para o ar mais tarde porque as coisas acontecem.
O que motivou sua mudança para a Bahia?
Eu estava recém-saído da faculdade, vim para cá com 24 anos e fazia quase um ano que tinha saído da faculdade. Morava com meus pais e surgiu um trabalho aqui na Bahia que era o da Rádio Manchete, sendo que eu já fazia rádio no Rio. A Manchete me contratou para trabalhar na Bahia e a primeira coisa que me surgiu na cabeça foi de que agora iria trilhar minha carreira. Eu vim para a Bahia com esse foco, dizendo: “Quem sabe não é na Bahia que eu vou conseguir contruir uma carreira?”. Sabe por que? Eu estava no Rio e lá o trabalho era ótimo, eu gostava, mas o nível de competitividade era muito maior do que em outras capitais do Brasil. Adoro a Bahia e não penso em voltar para o Rio.
Qual a sua rotina de trabalho?
Minha rotina de trabalho começa às 6 horas da manhã porque eu acumulo rádio e TV. Chego às 6 horas da manhã e a primeira coisa que eu faço é abrir meus e-mails. Eu sou editor-chefe da CBN, então a gente tem que tomar algumas decisões de manhã, pautas que estão pré-agendadas mas que mudam porque no dia a gente descobre que está acontecendo alguma coisa, então tem essa reunião pela manhã com a equipe da CBN para definir algumas pautas, traçar algumas estratégias e eu começo a trabalhar no programa que eu apresento às 8 horas da manhã. Fazemos uma rádio de jornalismo, então em tese você tem que estar bem informado para poder tratar dos assuntos do dia. Eu saio do ar às 10:30 da manhã e continuo na redação da rádio para definirmos algumas diretrizes para o dia seguinte. Chego na TV no começo da tarde, temos uma reunião de pauta que a gente faz, que na verdade não é nem uma reunião de pauta porque as pautas já estão pré-definidas, mas uma reunião para definir os assuntos que iremos priorizar na edição do BA TV daquele dia. Com base nessa reunião a gente define o espelho desse jornal, depois eu começo a reunião com as praças para saber o que eles têm. As vezes temos algum pedido para fazer para eles e já começamos a finalizar alguns assuntos. Pode acontecer de transformarmos alguns assuntos que até foram produzidos em forma de matéria em nota coberta, por exemplo. Nota coberta é a produção do texto na redação, gravar esse texto e cobrir com imagens. Pode acontecer o contrário também, a gente tem equipes soltas, que são equipes sem repórter (só o cinegrafista e o auxiliar), e quando, por exemplo, chove muito na cidade e as ruas ficam alagadas, a gente manda uma equipe solta fazer as imagens e na redação, conforme as imagens que nós temos, fazemos um texto, gravamos e o cobrimos com aquelas imagens. Ocorre também situações em que usamos o off vivo, ou seja, eu faço um texto mas não gravo, separamos algumas imagens que irão cobrir aquele texto que será dito ao vivo durante o jornal. Quando alguém fecha alguma matéria, eu também tenho a obrigação de estar revisando os textos para aprovar, os offs que são feitos na redação eu também tenho que aprovar. Depois de aprovado o texto, gravamos esse texto e aí já começa o trabalho de edição da matéria. No final da tarde, já estamos com a “cara” do jornal mais definida e já começamos a ter a obrigação de dar uma “cara” final ao jornal, afinal de contas, chega uma hora que temos que tê-lo bem amarrado, dentro do tempo certo e apresentar. Então, por exemplo, se eu tenho 13 minutos de jornal hoje e eu vejo no espelho que eu tenho 15 minutos, e avaliamos alguma coisa que possa cair. As vezes a matéria está ótima mas temos que diminuir porque não tem tempo suficiente, mas também tem que saber diminuir sem comprometer a qualidade da matéria. Na reta final eu já assisto todas as matérias editadas e reviso todas as páginas, as cabeças das matérias (texto que chama o VT), os créditos (tenho que checá-los para ver se estão corretos), checo também se a repórter sabe quanto tempo ela terá no ar, se terá alguém para coordená-la, enfim, tudo isso para ir para a bancada e apresentar.
E a confiança entre a equipe?
Eu parto do pressuposto de que toda a minha equipe é confiável, competente e responsável. Não quero trabalhar com ninguém que eu desconfie. Então, todo mundo é muito confiável. A equipe que coloca o BA TV no ar é uma equipe para a qual eu tiro o chapéu. Todos os meus colegas são muito bons profissionais que trabalham no sufoco todo o dia. A gente está no meio da fogueira e os outros estão jogando lenha. É uma informação que você tem que apurar de última hora, é um VT que você tem que modificar. Eu sou editor-chefe mas acima de mim tem o gerente de jornalismo e o diretor de jornalismo, que são aqueles que dão a palavra final e não raro acontece isso, o diretor pode chegar e dizer que quer modificar uma imagem, mudar o texto, acrescentar alguma coisa e temos que nos virar para colocar o jornal no ar porque é um controle de qualidade, prezamos por esse controle de qualidade. Normalmente o repórter já sai com o encaminhamento para a matéria dele, com a pauta, isso é o que acontece dentro das condições normais. Agora, pode acontecer do repórter sair sem pauta, em imprevistos, por exemplo.
Existia aquele estigma da TV Bahia como uma televisão altamente influenciada pela orientação partidária de seus acionistas, existe autonomia ou independência política na TV Bahia?
Nós temos independência política. A TV Bahia está na melhor fase da história dela porque o entendimento dos acionistas da TV Bahia é o de que o jornalismo é para ser exercido sob o ponto de vista jornalístico. Hoje estamos fazendo um jornalismo independente. Não é porque existe algum assunto de interesse da casa que colocaremos no ar, a gente vai colocar no ar porque é de interesse da casa e porque é de interesse público também. Se não for de interesse público a gente não coloca e eu te coloco como marco dessa independência política e editorial que nós temos hoje, as eleições para prefeito de 2008 em que tínhamos o candidato do PFL a prefeito e nós não dispensamos privilégio nenhum a ele, todos os candidatos foram tratados da mesma forma, tiveram o mesmo tempo de exposição no ar. As entrevistas que foram feitas com cada um deles, tanto no Bahia Meio-Dia quanto no BA TV, não tiveram orientação alguma da cúpula do grupo para nós, no sentido de “ó, pergunta isso, pergunta aquilo”, as perguntas foram definidas por nós, na redação. A mesma coisa a gente fez agora nas eleições para governador do estado. Eu falo em eleição porque seria um exemplo clássico de falta de independência política ou editorial que pudesse comprometer a qualidade do nosso trabalho. Tanto houve independência de nossa parte, como também não houve interferência do grupo no nosso trabalho.
Você acha que o público também enxerga dessa forma?
Acho e acho que o próprio meio político já percebe isso claramente.
Qual foi o seu melhor momento?
Meu melhor momento é agora.
Que mensagem deixa para os futuros profissionais?
Eu dou a maior força, acho que tem de cair de cabeça e não achar que é um mar de rosas. Se eu posso falar uma coisa é a seguinte: seja persistente, competente, responsável, correto e humilde. A gente erra e se a gente não tiver humildade, a gente não aprende com os erros. Uma dose de humildade cai bem, até porque é um meio em que se você deixar a vaidade comanda a sua cabeça. Eu me sinto extremamente lisonjeado e agradeço quando alguém chega para mim e diz: “Gosto do seu trabalho!”. Mas na mesma hora eu digo para mim mesmo: “Deixa eu continuar com o pé no chão!”. Então, eu acho que sou capaz de fazer um trabalho legal, mas tenho que tomar cuidado porque a gente começa do zero todo dia.
Qual o papel da televisão? Ela existe para informar, prestar serviço ou oferecer entretenimento?
A televisão tem vários papéis, acho que a televisão tem o papel de entreter, educar – nada impede que sejam feitos programas educativos, tanto que já existem - e prestação de serviço. Mas eu que trabalho na área de Jornalismo, acredito que o grande papel dela seja exatamente este, o de contribuir para o crescimento, para o desenvolvimento da melhor forma possível. Eu procuro sempre enxergar isso no meu trabalho: Como estou contribuindo para o crescimento das pessoas? Como estou contribuindo para o aumento da qualidade de vida delas? Acho que nós, enquanto comunicadores, temos que nos preocupar com isso, nós estamos falando com pessoas e muitas delas usam o que você fala como referência, por mais que a gente saiba que o Jornalismo não é o dono da verdade. Uma imagem ou uma informação pode ser verdadeira, mas o Jornalismo é extremamente subjetivo já que exige interpretação dos fatos. Por mais que você queira ser imparcial, a mera escolha das palavras que você vai usar é pessoal, é subjetiva. Se você colocar dez jornalistas isentos para retratar o mesmo fato sairão textos diferentes. Você expressa um consenso sobre determinado assunto mas não significa que você seja o dono daquela verdade. Essa preocupação, esse respeito com a diversidade, com os pontos de vista diferentes devem ser exercitados.
O que é uma boa reportagem para a TV Bahia?
Em primeiro lugar, interesse público. Em segundo lugar, uma reportagem que tenha ética, que respeite as pessoas mencionadas naquela reportagem. Também deve ter um bom texto, uma qualidade plástica, estética, boas imagens, que seja uma reportagem atrativa. Enfim, que tenha qualidade. Essa é uma boa matéria para a TV Bahia.
E para você a mesma coisa?
Não tenha dúvida, hoje a gente trabalha com um controle de qualidade muito grande. O que não impede de você colocar no ar, e isso passou a se tornar frequente na imprensa em geral, imagens amadoras. Ontem (9 de novembro), a gente colocou no ar a imagem do circuito de segurança de uma loja do Politeama que flagrou um empresário espanhol que foi vítima de um roubo e morreu. Foi uma imagem amadora porque não tem a qualidade profissional, mas ali estávamos avaliando o conteúdo da imagem e não a plástica dela. O conteúdo ali é que era importante. E geralmente a gente recebe imagens amadoras, a gente analisa, se tiver conteúdo vai para o ar. Esses dias a gente quase comprou uma imagem de um acidente em que um caminhão caiu em cima de dois carros, era uma filmagem excelente, mas a nossa equipe já tinha registrado o acontecido.
Então aqui existe essa liberdade de participação tanto do público quanto dos profissionais da emissora na construção das edições do jornal?
Claro, nada impede que a gente sugira pautas. Nós temos a figura do pauteiro, do produtor mas é um trabalho em grupo. De repente alguém fica sabendo de alguma coisa que dá uma excelente matéria, não podemos ser omissos. O BA TV recebe muitos e-mails, telefonemas, pela própria página do IBahia o público escreve para o BA TV, então existe essa interatividade.
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