quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Rádio CBN, a caçula do grupo

Foto: Correio
Durante a entrevista com Jefferson Beltrão, ainda houve espaço para coversarmos sobre a mais nova empresa de comunicação do grupo Rede Bahia, a Rádio CBN da Bahia.

A recém-lançada Rádio CBN está correspondendo às expectativas do grupo?
A CBN está no ar há sete meses. Dá para fazer uma avaliação, mas ainda modesta porque a gente ainda tem muito que avançar. A equipe é pequena e temos o desafio de ocupar todos os espaços locais disponíveis pela programação de rede e isso ainda apresenta-se como dificuldade. Ainda temos alguns “gargalos” na madrugada, por exemplo, nesse horário temos programação de rede o tempo todo. A programação local está reduzida ao horário das 9 ao meio-dia, das 4 às 5 da tarde e das 6:30 às 7 da noite. Além disso, a gente tem quatro breaks locais que variam de 2 a 5 minutos. O perfil da rádio é totalmente jornalístico.
E a concorrência?
Nossos concorrentes diretos são a Band News e Metrópole.
O que falta para se consolidar no mercado?
Disseminar o conceito de que a CBN é uma rádio confiável, uma rádio séria, que exercita o Jornalismo com competência e ocupar os horários locais, dando uma cara baiana à rádio já que a “cabeça de rede” da CBN é São Paulo. A maior parte da programação é gerada em São Paulo, então é uma rádio muito paulistana. Nos espaços locais que nós temos, devemos ser baianos para criar essa identidade por mais que a rádio já tenha uma marca.  

Jefferson Beltrão: "Estamos no meio da fogueira e os outros estão jogando lenha."

Qual a sua formação? Quanto tempo de experiência na área? Por quais veículos já passou?
Eu sou jornalista formado pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso do Rio de Janeiro e sou pós-graduado em gestão da informação para multimeios pela FTC. Sou mineiro, comecei a trabalhar nessa área em Minas Gerais em Varginha em 1978, estava fazendo ainda o segundo grau. Tive uma experiência de 32 anos de rádio e foi o rádio que me influenciou a fazer jornalismo. Já trabalhei em meios impressos, televisão, rádio.  Passei pela Rádio Vanguarda em Varginha, depois, quando fui para o Rio de Janeiro, trabalhei na Rádio ElDourado, Ipanema, Capital, todas elas AM. Quando me formei, vim para a Bahia, aqui trabalhei na Rádio Manchete, A Tarde FM, Salvador FM, Globo FM  e pela CBN agora. Passei também pelo jornal Correio da Bahia e pelas TVs Aratu e Itapoan. Atualmente estou na TV Bahia e na Rádio CBN.
Quais as dificuldades que já passou ao longo da carreira?
As dificuldades são as dificuldades naturais de quem quer criar um espaço no mercado de trabalho. Você tem que se dedicar, ultrapassar obstáculos, se aperfeiçoar, tem que estar sempre buscando estar bem informado. O jornalismo não é simplesmente saber escrever um bom texto, saber apurar corretamente uma informação porque isso é o básico, isso a gente aprende na faculdade. Claro que você precisa dessa técnica para dar conta do seu trabalho, porém mais do que isso é você aprender a se relacionar com as pessoas, você aprender a trabalhar em equipe, aprender a trabalhar sob pressão, das pessoas e do tempo. Essas dificuldades você não aprende na faculdade e uma coisa interessante é que as vezes você até tem uma experiência legal  nessa área, mas a cada dia o desafio se renova. Digo isso por experiência própria, a gente faz uma tremenda edição do BA TV hoje, amanhã a gente já começa do zero, tudo tem que ser recomeçado. Pode acontecer, por exemplo, do jornal estar prontinho e de repente estoura uma bomba na esquina da qual eu não posso deixar de falar. Então o fato de você ter feito um ótimo trabalho hoje, não é garantia que você irá fazer  um tremendo jornal amanhã. Por exemplo, estamos fazendo o BA TV de hoje, que já está pronto, a gente faz o pré-espelho do jornal, dá para antever alguns assuntos, mas eu acabei de fazer uma ronda com as praças, as afiliadas no interior do estado e hoje (dia 10 de novembro) teve a reunião da Federação Baiana de Futebol que anunciou o regulamento do Campeonato Baiano do ano que vem, a gente vai noticiar. Então dá para você desenhar o jornal, mas não é garantia de que será esse desenho que irá para o ar mais tarde porque as coisas acontecem.
O que motivou sua mudança para a Bahia?
Eu estava recém-saído da faculdade, vim para cá com 24 anos e fazia quase um ano que tinha saído da faculdade. Morava com meus pais e surgiu um trabalho aqui na Bahia que era o da Rádio Manchete, sendo que eu já fazia rádio no Rio. A Manchete me contratou para trabalhar na Bahia e a primeira coisa que me surgiu na cabeça foi de que agora iria trilhar minha carreira. Eu vim para a Bahia com esse foco, dizendo: “Quem sabe não é na Bahia que eu vou conseguir contruir uma carreira?”. Sabe por que? Eu estava no Rio e lá o trabalho era ótimo, eu gostava, mas o nível de competitividade era muito maior do que em outras capitais do Brasil. Adoro a Bahia e não penso em voltar para o Rio.
Qual a sua rotina de trabalho?
Minha rotina de trabalho começa às 6 horas da manhã porque eu acumulo rádio e TV. Chego às 6 horas da manhã e a primeira coisa que eu faço é abrir meus e-mails.  Eu sou editor-chefe da CBN, então a gente tem que tomar algumas decisões de manhã, pautas que estão pré-agendadas mas que mudam porque no dia a gente descobre que está acontecendo alguma coisa, então tem essa reunião pela manhã com a equipe da CBN para definir algumas pautas, traçar algumas estratégias e eu começo a trabalhar no programa que eu apresento às 8 horas da manhã. Fazemos uma rádio de jornalismo, então em tese você tem que estar bem informado para poder tratar dos assuntos do dia. Eu saio do ar às 10:30 da manhã e continuo na redação da rádio para definirmos algumas diretrizes para o dia seguinte. Chego na TV no começo da tarde, temos uma reunião de pauta que a gente faz, que na verdade não é nem uma reunião de pauta porque as pautas já estão pré-definidas, mas uma reunião para definir os assuntos que iremos priorizar na edição do BA TV daquele dia. Com base nessa reunião a gente define o espelho desse jornal, depois eu começo a reunião com as praças para saber o que eles têm. As vezes temos algum pedido para fazer para eles e já começamos a finalizar alguns assuntos. Pode acontecer de transformarmos alguns assuntos que até foram produzidos em forma de matéria em nota coberta, por exemplo. Nota coberta é a produção do texto na redação, gravar esse texto e cobrir com imagens. Pode acontecer o contrário também, a gente tem equipes soltas, que são equipes sem repórter (só o cinegrafista e o auxiliar), e quando, por exemplo, chove muito na cidade e as ruas ficam alagadas, a gente manda uma equipe solta fazer as imagens e na redação, conforme as imagens que nós temos, fazemos um texto, gravamos e o cobrimos com aquelas imagens. Ocorre também situações em que usamos o off vivo, ou seja, eu faço um texto mas não gravo, separamos algumas imagens que irão cobrir aquele texto que será dito ao vivo durante o jornal.  Quando alguém fecha alguma matéria, eu também tenho a obrigação de estar revisando os textos para aprovar, os offs que são feitos na redação eu também tenho que aprovar. Depois de aprovado o texto, gravamos esse texto e aí já começa o trabalho de edição da matéria. No final da tarde, já estamos com a “cara” do jornal mais definida e já começamos a ter a obrigação de dar uma “cara” final ao jornal, afinal de contas, chega uma hora que temos que tê-lo bem amarrado, dentro do tempo certo e apresentar. Então, por exemplo, se eu tenho 13 minutos de jornal hoje e eu vejo no espelho que eu tenho 15 minutos, e avaliamos alguma coisa que possa cair. As vezes a matéria está ótima mas temos que diminuir porque não tem tempo suficiente, mas também tem que saber diminuir sem comprometer a qualidade da matéria. Na reta final eu já assisto todas as matérias editadas e reviso todas as páginas, as cabeças das matérias (texto que chama o VT), os créditos (tenho que checá-los para ver se estão corretos),  checo também se a repórter sabe quanto tempo ela terá no ar, se terá alguém para coordená-la, enfim, tudo isso para ir para a bancada e apresentar.
E a confiança entre a equipe?
Eu parto do pressuposto de que toda a minha equipe é confiável, competente e responsável. Não quero trabalhar com ninguém que eu desconfie. Então, todo mundo é muito confiável. A equipe que coloca o BA TV no ar é uma equipe para a qual eu tiro o chapéu.  Todos os meus colegas são muito bons profissionais que trabalham no sufoco todo o dia. A gente está no meio da fogueira e os outros estão jogando lenha. É uma informação que você tem que apurar de última hora, é um VT que você tem que modificar. Eu sou editor-chefe mas acima de mim tem o gerente de jornalismo e o diretor de jornalismo, que são aqueles que dão a palavra final e não raro acontece isso, o diretor pode chegar e dizer que quer modificar uma imagem, mudar o texto, acrescentar alguma coisa e temos que nos virar para colocar o jornal no ar porque é um controle de qualidade, prezamos por esse controle de qualidade. Normalmente o repórter já sai com o encaminhamento para a matéria dele, com a pauta, isso é o que acontece dentro das condições normais. Agora, pode acontecer do repórter sair sem pauta, em imprevistos, por exemplo.
Existia aquele estigma da TV Bahia como uma televisão altamente influenciada pela orientação partidária de seus acionistas, existe autonomia ou independência política na TV Bahia?
Nós temos independência política. A TV Bahia está na melhor fase da história dela porque o entendimento dos acionistas da TV Bahia é o de que o jornalismo é para ser exercido sob o ponto de vista jornalístico. Hoje estamos fazendo um jornalismo independente. Não é porque existe algum assunto de interesse da casa que colocaremos no ar, a gente vai colocar no ar porque é de interesse da casa e porque é de interesse público também. Se não for de interesse público a gente não coloca e eu te coloco como marco dessa independência política e editorial que nós temos hoje, as eleições para prefeito de 2008 em que tínhamos o candidato do PFL a prefeito e nós não dispensamos privilégio nenhum a ele, todos os candidatos foram tratados da mesma forma, tiveram o mesmo tempo de exposição no ar. As entrevistas que foram feitas com cada um deles, tanto no Bahia Meio-Dia quanto no BA TV, não tiveram orientação alguma da cúpula do grupo para nós, no sentido de “ó, pergunta isso, pergunta aquilo”, as perguntas foram definidas por nós, na redação. A mesma coisa a gente fez agora nas eleições para governador do estado. Eu falo em eleição porque seria um exemplo clássico de falta de independência política ou editorial que pudesse comprometer a qualidade do nosso trabalho. Tanto houve independência de nossa parte, como também não houve interferência do grupo no nosso trabalho.
Você acha que o público também enxerga dessa forma?
Acho e acho que o próprio meio político já percebe isso claramente.
Qual foi o seu melhor momento?
Meu melhor momento é agora.
Que mensagem deixa para os futuros profissionais?
Eu dou a maior força, acho que tem de cair de cabeça e não achar que é um mar de rosas. Se eu posso falar uma coisa é a seguinte: seja persistente, competente, responsável, correto e humilde. A gente erra e se a gente não tiver humildade, a gente não aprende com os erros. Uma dose de humildade cai bem, até porque é um meio em que se você deixar a vaidade comanda a sua cabeça. Eu me sinto extremamente lisonjeado e agradeço quando alguém chega para mim e diz: “Gosto do seu trabalho!”. Mas na mesma hora eu digo para mim mesmo: “Deixa eu continuar com o pé no chão!”. Então, eu acho que sou capaz de fazer um trabalho legal, mas tenho que tomar cuidado porque a gente começa do zero todo dia.
Qual o papel da televisão? Ela existe para informar, prestar serviço ou oferecer entretenimento?
A televisão tem vários papéis, acho que a televisão tem o papel de entreter, educar – nada impede que sejam feitos programas educativos, tanto que já existem - e prestação de serviço. Mas eu que trabalho na área de Jornalismo, acredito que o grande papel dela seja exatamente este, o de contribuir para o crescimento, para o desenvolvimento da melhor forma possível.  Eu procuro sempre enxergar isso no meu trabalho: Como estou contribuindo para o crescimento das pessoas? Como estou contribuindo para o aumento da qualidade de vida delas? Acho que nós, enquanto comunicadores, temos que nos preocupar com isso, nós estamos falando com pessoas e muitas delas usam o que você fala como referência, por mais que a gente saiba que o Jornalismo não é o dono da verdade. Uma imagem ou uma informação pode ser verdadeira, mas o Jornalismo é extremamente subjetivo já que exige interpretação dos fatos. Por mais que você queira ser imparcial, a mera escolha das palavras que você vai usar é pessoal, é subjetiva. Se você colocar dez jornalistas isentos para retratar o mesmo fato sairão textos diferentes. Você expressa um consenso sobre determinado assunto mas não significa que você seja o dono daquela verdade. Essa preocupação, esse respeito com a diversidade,  com os pontos de vista diferentes devem ser exercitados.
O que é uma boa reportagem para a TV Bahia?
Em primeiro lugar, interesse público. Em segundo lugar, uma reportagem que tenha ética, que respeite as pessoas mencionadas naquela reportagem. Também deve ter um bom texto, uma qualidade plástica, estética, boas imagens, que seja uma reportagem atrativa. Enfim, que tenha qualidade. Essa é uma boa matéria para a TV Bahia.
E para você a mesma coisa?
Não tenha dúvida, hoje a gente trabalha com um controle de qualidade muito grande. O que não impede de você colocar no ar, e isso passou a se tornar frequente na imprensa em geral, imagens amadoras. Ontem (9 de novembro), a gente colocou no ar a imagem do circuito de segurança de uma loja do Politeama que flagrou um empresário espanhol que foi vítima de um roubo e morreu. Foi uma imagem amadora porque não tem a qualidade profissional, mas ali estávamos avaliando o conteúdo da imagem e não a plástica dela. O conteúdo ali é que era importante.  E geralmente a gente recebe imagens amadoras, a gente analisa, se tiver conteúdo vai para o ar. Esses dias a gente quase comprou uma imagem de um acidente em que um caminhão caiu em cima de dois carros, era uma filmagem excelente, mas a nossa equipe já tinha registrado o acontecido.
Então aqui existe essa liberdade de participação tanto do público quanto dos profissionais da emissora na construção das edições do jornal?
Claro, nada impede que a gente sugira pautas. Nós temos a figura do pauteiro, do produtor mas é um trabalho em grupo. De repente alguém fica sabendo de alguma coisa que dá uma excelente matéria, não podemos ser omissos. O BA TV recebe muitos e-mails, telefonemas, pela própria página do IBahia o público escreve para o BA TV, então existe essa interatividade.

José Raimundo: "A televisão é a voz e o ouvido da comunidade."

Conte-nos um pouco sobre a sua experiência e sobre os veículos em que trabalhou.
Eu comecei como rádio-escuta na Rádio Sociedade da Bahia, depois fui convidado a integrar a equipe da TV Itapoan e lá comecei a minha vida de repórter, algo completamente imprevisível já que a minha “cachaça” era o rádio. Eu gostava muito de rádio e quando a televisão bateu na minha porta, eu abri assustado. Nessa época, eu abandonei o rádio porque não dava para conciliar, eu também trabalhava como bancário, então eu trabalhava no banco pela manhã e na televisão eu trabalhava à tarde. Essa fase da TV Itapoan foi uma fase importante porque eu peguei a falência do Diário de Associados, o fim mesmo do domínio de Chateaubriand. Aprendi muita coisa com aquela fase ruim, uma fase em que faltavam equipamentos, as vezes nem salário no fim do mês tinha, ainda bem que eu não dependia só disso porque o que me sustentava na verdade era o banco. Naquela época era muito complicado viver só de jornalismo, só de reportagem, mas de alguma maneira eu conseguir driblar essas dificuldades. Depois eu fui convidado para trabalhar na TV Aratu, na época com Hermano Henning. Nos encontrávamos muito nas matérias, ele pela TV Aratu e eu pela Itapoan, ele gostava do meu trabalho e fez uma ponte para mim na TV Aratu, ele era o chefe de jornalismo naquela época e acabou me convidando para trabalhar lá. Dois anos depois, já experiente, me escalaram para ser um dos repórteres da TV Globo, um dos credenciados da rede para trabalhar no Jornal Nacional e nos demais telejornais da Rede Globo e fiquei na TV Aratu até ela perder a concessão para a Globo, quando isso aconteceu passei um período em São Paulo por orientação da emissora e depois me mandaram para Recife, onde fiquei por três anos, para depois retornar à TV Bahia e aqui estou até hoje.
Qual foi o maior desafio enfrentado na profissão?
Meu maior desafio foi aprender. Eu não imaginava, quando comecei, chegar à televisão. A televisão me surgiu por acaso e o grande desafio foi aprender a fazer a reportagem. E até hoje eu estou nesse caminho do aprendizado. Fora isso, alguns empecilhos que sempre aparecem no nosso caminho como algumas ameaças, principalmente em matérias de denúncia.
Que tipo de ameaça?
Elas surgem principalmente quando a matéria é sobre meio ambiente. Me lembro que fiz uma vez um Globo Repórter sobre a destruição da Mata Atlântica e nós mexemos com uma história de um fazendeiro que derrubou uma floresta para plantar café e esse fazendeiro não gostou muito e andou me ameaçando de morte.
Na TV Bahia, o repórter tem liberdade para tratar sobre qualquer tema? Há autonomia? Existe alguma interferência dos acionistas no conteúdo das matérias?
Olha, eu nunca vi nenhum tipo de censura. Evidentemente que todo profissional sabe e conhece a linha editorial da empresa onde ele trabalha e nós conhecemos a linha editorial da TV Bahia, que é uma linha muito voltada para a linha da TV Globo. A linha da TV Globo para mim e para muitos de meus colegas é de independência. Nunca tive um texto censurado, nada que me proibisse de falar ou de construir algum caminho para alguma reportagem. Nunca aconteceu isso aqui.
Como você acha que o público enxerga o veículo? Você acha que essa percepção antiga da TV Bahia como veículo ligado a um partido político mudou?
Eu não posso falar pelo público. As pessoas falam muito da TV Bahia como uma televisão associada a um grupo político e eu pergunto a elas: qual o grupo de comunicação no Brasil que não tenha alguma ligação política? Agora, dos que eu conheço, eu acho que a TV Bahia tem uma postura de independência e de respeito aos profissionais ótima. Não tenho nenhuma queixa, nunca tive meu trabalho censurado ou tolhido de alguma maneira por qualquer tipo de interferência política. Nunca aconteceu isso aqui comigo.
Qual o papel que a televisão tem hoje: informar, entreter, prestar serviço a comunidade?
Tudo isso. O papel da televisão é prestar um serviço de qualidade. A televisão forma opiniões, ela é um veículo forte e importante que as pessoas estão sempre ligadas, estão sempre acompanhando, e por isso tem um papel fundamental na construção da sociedade, dos caminhos que a comunidade deve trilhar. A televisão é uma espécie de porta voz das comunidades, principalmente das comunidades mais carentes, aquelas que precisam mais de apoio. A televisão é a voz e o ouvido da comunidade.
O que é uma boa reportagem?
Uma boa reportagem é aquela feita com base na verdade, na ética e na qualidade profissional. Nenhuma reportagem sobrevive sem esses requisitos, eles são básicos na elaboração de um trabalho bem feito.
Como descreveria seu dia? Existe alguma rotina?
Não há uma rotina. A gente nunca sabe o que vai acontecer daqui a três ou quatro horas. Eu estou aqui agora e de repente acontece alguma coisa em algum ponto na minha área de atuação como repórter e eu posso ter que me deslocar para fazer esse trabalho. Não há uma rotina ou expediente determinado, a gente não tem hora para sair daqui.
Você tem algum projeto para o futuro? Alguma coisa que você sonhe realizar na carreira?
Eu gosto muito de trabalhar com grandes reportagens. Tenho o sonho de um dia poder trabalhar com documentários. Espero um dia ter condições e capacidade para me dedicar só a documentários. Eu penso um dia sair dessa rotina estressante do factual, o factual é muito estressante. Eu já tenho 32 anos de profissão, começo a pensar em me dedicar a uma coisa que me proporcione mais tempo para pensar, ter mais liberdade. Eu não posso reclamar, mas eu queria me dedicar a isso. Evidentemente que não depende só de mim mas de toda uma conjuntura, de todo um processo que anda na retaguarda das redações. Eu ainda não faço trabalhos paralelos, vivo exclusivamente da televisão, trabalho com equipe e equipamentos da televisão. Não tenho uma atividade paralela que me dê algum tipo de suporte para chegar hoje e dizer que vou parar e me dedicar só a documentários. Ainda não tenho essa condição.
E  rádio?
Rádio é uma coisa que me fascina até hoje, é um veículo muito importante. Na rádio eu fui locutor noticiarista. Mas eu gosto de programas jornalísticos, de prestação de serviços, sempre me interessei muito pelo contato com as pessoas. Acho que o ouvinte e o telespectador merecem muito respeito e atenção e são personagens importantes de qualquer trabalho jornalístico. Nenhuma reportagem se sustenta sem bons personagens. Na verdade o repórter é só o fio condutor, é aquele que pontua, mas quem conta a história são as pessoas que estão no caminho daquele assunto e acho que nada sobrevive sem essa percepção no jornalismo. A pessoa que está sofrendo na pele é o fator principal desse trabalho.
O que você diria sobre o jornalismo investigativo? Existem riscos
É uma vertente bem especializada, se dedicar a ela é desafiador. Eu tenho muitos colegas que fazem isso muito bem. Eu tento fazer e aprender quando tenho chance. Eu não diria que é perigosa pois tudo pode ser perigoso quando se fala em divulgação de informação. O perigo depende muito da forma como você aborda, do caminho que você escolheu. Você não pode ficar “dando mole” para o azar, tem que tomar precauções. Eu, por exemplo, quando vou fazer alguma matéria de denúncia, penso primeiro na minha família. Não quero ser herói morto, para mim isso não interessa. “Vou peitar tal situação porque sou jornalista!”, que nada! Antes eu sou ser humano.
Existe um liame entre o jornalismo investigativo e o sensacionalista?
Esse tipo de jornalismo não me atrai (o sensacionalista). O sensacionalismo não me atrai, o que me atrai é a verdade, o jornalismo pautado na seriedade. Não gosto de sensacionalismo. Não valorizo nada que sugira exploração das pessoas, o que a gente cansa de ver na televisão. Eu acho que aquilo não constrói, pelo contrário. Não quero muito falar sobre isso não, mas é um jornalismo que na verdade nem é jornalismo. Tudo bem que o bandido deva ser tratado como bandido, mas isso não quer dizer que você tenha o direito de ridicularizar aquela situação. Esse tipo de abordagem não constrói. Isso ajuda a afundar mais a família, a comunidade, não é por aí que a gente vai resolver os problemas que estão nos cercando.
Para encerrar, quais as suas referências profissionais?
Hermano Henning, Ernesto Palha, Caco Barcelos, Lucas Mendes. Eu quero ser igual a eles (risos).

Nos bastidores da TV Bahia com Giácomo Mancini

No estúdio único da TV Bahia são gravados programas como Fala Bahia, o BA TV, o Bahia Meio-Dia e o Globo Esporte do Estado.

O cenário da edição baiana do Globo Esporte fica suspenso no momento da gravação dos demais programas.

Giácomo nos mostra outra "versatilidade" do cenário. Na mesma bancada são apresentados todos os telejornais da emissora, a única diferença no cenário deles é proporcionada por cartazes giratórios que mudam de imagem da capital de acordo com o programa que venha a ser gravado.

Na ilha de edição da emissora, as matérias são editadas e a programação local é ajustada com a programação da Rede Globo. Percebam que, em decorrência do horário de verão, o local também serve para gravar a programação do Sul, para depois a mesma ser exibida por aqui. 

TV Bahia: Um breve histórico

Primeira marca da TV Bahia.
Inaugurada em 10 de março de 1985, a TV Bahia, em seus primeiros anos, transmitia a programação da Rede Manchete.
O primeiro logo da TV Bahia, segundo seus idealizadores, remetia-no a seguinte simbologia: "Nasce o sol na Bahia". Assim, a primeira marca da emissora reluzia o forte e imponente tom dourado e a fonte prateada destacava a nova televisão baiana.
 Após dois anos de transmissão em território baiano, a emissora tornou-se afiliada da Rede Globo, parceria que dura até hoje. Na ocasião, a antiga transmissora da programação da Rede Globo, a TV Aratu, passou a transmitir a programção da TV Manchete, antiga parceira da TV Bahia.
Além de retransmitir a programação da Rede Globo, maior rede de televisão brasileira e uma das maiores do mundo, a TV Bahia tem uma programação local variada composta atualmente por três telejornais, o Jornal da Manhã, Bahia Meio-Dia e o BA TV; três programas de variedades, Rede Bahia Revista, Mosaico Baiano e Aprovado; um programa rural, o Bahia Rural; e inserções nos programas esportivos da Rede Globo.


Links: http://www.ibahia.globo.com/tvbahia
          http://www.redebahia.com.br/

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O profissional por Paulo Leandro



Foto: Correio.

A conversa com Paulo Leandro, Secretário de Redação do jornal Correio, rendeu uma interessante discussão sobre o perfil do profissional da área de Jornalismo encontrado no mercado hoje e o que as empresas de comunicação esperam desse profissional, além das diferenças entre os desafios da profissão ensinados na teoria e como eles se apresentam na prática das redações.

Paulo afirmou que o jornalista é um profissional que definitivamente não tem férias. O profissional do Correio nos passa sua própria experiência: "Às vezes eu estou no interior fazendo trilha e tem uma queimada e de repente isso torna-se notícia. Então nossa profissão está muito ligada a nossa vida, não é como o trabalho de um bancário, uma atividade burocrática, por exemplo. Você pode até estar de folga, mas sua cabeça continua pensando nas situações ao redor que podem virar matéria. É preciso até ter um controle para tentar disciplinar seu dia-a-dia porque chega a um ponto que começa a incomodar."

Leandro acredita que a função do jornalista na sociedade é a de prestar um serviço: "Nós somos empregados da iniciativa privada, mas também prestamos um serviço público. Temos a satisfação em denunciar alguém que está fazendo mal uso do dinheiro público, por exemplo, ou mesmo uma matéria que traga oferta de empregos.".

O jornalista também mostrou-se preocupado com os profissionais que estão no mercado, utilizando como argumento desses pontos negativos a formação desses jornalistas: "Algo que me preocupa na formação acadêmica é essa preocupação exagerada com as técnicas, principalmente na área do vídeo. É bom, mas se não tiver o ideal e o sonho, as habilidades subjetivas, o conteúdo, não acredito que o trabalho faça sentido."

Assim, a questão da necessidade ou não de diploma para tornar-se jornalista foi relativizada pelo Secretário de Redação do Correio: "Tinha uma visão muito estreita com relação a isso. O mundo tem me mostrado que não só jornalistas diplomados são capazes de produzir conteúdo. Tanto que existem jornais que interagem de forma muito intensa com seu público. A academia continua sendo valorizada pois ali você ganha condições para pensar o jornal, te dá instrumentos para você ter um melhor rendimento no ambiente de trabalho. Mas formação acadêmica não dá necessariamente credibilidade ao jornalista pois a passagem pela Universidade não garante isso, tudo depende de como o curso de Jornalismo está sendo oferecido. Nesse sentido, disciplinas como Ética, por exemplo, tornam-se mais urgentes do que disciplinas técnicas.".


 

Rotina no Correio?

Foto: Papo de Buteco
Na visita ao Correio, Paulo Leandro nos deixou a par dessa forma inovadora de fazer jornalismo que o impresso tenta inserir no Jornalismo baiano. Para tanto, a programação visual do veículo é um aspecto essencial para o sucesso do jornal: "Na capa, operamos com uma boa foto, uma foto aberta. Trabalhamos com a simplicidade, não queremos nos estressar com a capa, queremos uma capa simples, com três ou quatro chamadas. A gente costuma também fazer uma capa para venda avulsa, com maior apelo visual, e outra para assinantes.".

O critério para definir o material que irá na edição do dia, segundo Leandro, é a empatia com o público: "A gente é uma espécie de laboratório que tem um reagente para ver se a notícia interessa mesmo ao público.  Nossos pressupostos são o interesse do público, a veracidade, a atualidade e o inusitado. Nosso raio de alcance é medido pela empatia, nos colocamos no lugar do outro para saber o que o leitor quer ler. No trabalho, você vai desenvolvendo essa percepção do que é ou não notícia, é um processo muito humano. Aqui, nada é objetivo, tudo é muito subjetivo. Jornalismo é isso: a abstração e a angústia causada pela mesma, nada é certo, tudo é muito relativo.".

O Correio é um jornal que prioriza a cobertura local, nas palavras de Leandro, sem deixar de realizar uma abordagem do conteúdo nacional. Mais uma vez o jornalista do Correio deixa claro que a maior preocupação do jornal é o interesse do público e se um acontecimento de impacto nacional for o assunto de destaque da semana, certamente ganhará amplo espaço no Correio. Porém, Paulo Leandro deixa claro que a proposta do veículo é regionalizar a informação. Sobre a linguagem utilizada no Correio, Leandro diz que o veículo tem uma "pegada" do bom humor, da irreverência, e isso ocorre principalmente pelo fato de uma boa parcela de seus profissionais, inclusive ele, vir da área esportiva.

O jornalista também salientou a importância do Correio fazer parte de um grupo de Comunicação, pois assim pode integrar-se com as demais ramificações da Rede Bahia, como a TV Bahia e o portal iBahia: "Temos um diálogo com a TV, o rádio, a internet...O pessoal da TV lê o nosso jornal, nós sempre falamos da TV Bahia, eu sempre estou na CBN... Dá para fazer esse marketing aqui dentro, mas não um marketing no sentido pejorativo que a palavra adquiriu. Estamos vivendo um período de integração, de pós-modernidade.".

Voltando a discussão para um tema que tem sido por muitos anos o calo dos veículos de comunicação da Rede Bahia, a possível interferência de acionistas no conteúdo veiculado pelos jornais por ligações políticas ou interesses comerciais advindos de apelos dos anunciantes, Paulo Leandro foi categórico: "Tenho recebido feedbacks sobre a cobertura política do jornal e ela está de parabéns. Está satisfazendo plenamente o leitor, tendo um cuidado de dar espaço igual a todos os grupos políticos da sociedade. Temos esse cuidado até em relação as fotos publicadas. Então, para um jornal que veio de uma tradição anterior de uso de seu espaço como capital político, tornou-se um exemplo de Jornalismo e conseguiu superar essa visão anterior. Gostaria até que nosso Esporte pudesse ser tão equilibrado quanto a seção de Política, apesar de acreditar que estamos no caminho. Podemos avançar mais no esporte, acho que damos mais espaço para o tricolor, mas na cobertura política não há o que avançar. Tudo é muito equilibrado e hoje o jornal já é mais acreditado."

Para o jornalista, a liberdade profissional no Correio é plena: "Aqui a mesa é livre, é como em um jogo de Poker. Se o profissional jogar uma carta na mesa e se essa carta for aquela que deveria ser jogada naquele momento, se for uma pauta boa, nós produzimos.". Na opinião de Leandro, até mesmo a visão do público já foi modificada nesse aspecto: "Não sei se a gente tem uma pesquisa de recepção, mas os números de venda são muito bons e a gente ouve pelas ruas que o Correio está tendo uma ótima aceitação. A visão antiga que o público tinha do Correio já foi desmanchada. Eu estive em um encontro na FACOM (Faculdade de Comunicação da Bahia - UFBA) recentemente e as pessoas nem tocaram nesse assunto.".